27.12.12

Dois mitos americanos que fazem história há mais de 50 anos

Do Shelby Mustang à Harley Davidson Rocker 1600


No interior sobressaem alguns detalhes... Mas a alavanca da caixa de velocidades é notável, bastante retro
 
Este Shelby é uma versão especial do Ford Mustang que mantem as mesmas linhas que o notabilizaram desde os finais da década de 60, do século passado


O enorme motor V8 é acompanhado pelo não menos espetacular filtro de ar

 
Experimentar dois mitos da indústria de veículos automóveis norte-americana é momento único. Neste caso nem sequer falamos de velocidade ou um simples ensaio de condução radical. Nada disso! Antes ‘saborear’ o espírito da de uma condução imbuída de um culto só visto nos apaixonados pela Harley Davidson e pelos Shelby Mustang, uma marca muito especial associada à Ford.
O nosso prazer foi conseguido no selim de uma 1600 Rocker C que já custou mais de 50 mil euros e ao volante de Shelby Mustang GT 500, na versão comercializada à entrada de 2011. O Ford tem matrícula espanhola, mas em Portugal custará entre os 160 e 200 mil euros.
Os Shelby equipam um motor Ford de 8 cilindros em V DOHC. O exemplar que conduzimos tem 5,4 litros e possui 547 cavalos.
De recordar que este modelo data de 1967 e mantém um “velho novo design”. É reconhecido como um Mustang. O seu design baseia-se nos antigos GT 500 originais, produzidos até 1970 e por herança dos Mustang Shelby dos ‘anos 60’ do seculo passado: Mantêm as aberturas no capô, que retiram o calor do compartimento do motor e o spoiler traseiro, uma referência aos primeiros Shelby.
A versão que conduzimos é sobrealimentada e possui a maioria dos componentes do actual Ford GT que se exibe no presente ‘Mundial de GT’. A caixa é de 6 marchas, com intervalo muito curto e uniforme, tal qual sucede nas versões de competição.
Testámos o Shelby num traçado sinuoso com bom piso, apenas com a adversidade de se encontrar ligeiramente húmido. Este coupé aparentemente mais clássico que os seus concorrentes, os Porsche, Ferrari, McLaren, Lamborghinni, BMW série 6, é uma máquina infernal capaz de ombrear com a concorrência europeia em todas as circunstâncias, particularmente nas travagens e recuperações. As recuperações são quase mágicas a fazer lembrar-nos de um carro de rali: parado arrancou para os 100 km/h em pouco mais de 4 segundos, sem que tivéssemos a necessidade de dar tudo por tudo. A saída das curvas, mesmo as mais apertadas não nos deu dores de cabeça: O Shelby Mustang encerra um comportamento em curva simplesmente fantástico, muito semelhante aos concorrentes com carroçaria mais baixa. O seu centro de gravidade é muito bom e percebe-se que foi cuidado pelo construtor. De qualquer modo, o fascínio também se encontra quando o fazemos deslocar suavemente, para ter o prazer de ouvir o ressoar do seu motor, seguramente um dos melhores V8 que se constroem no planeta. O Shelby GT 500 está longe de ser um desportivo vulgar uma qualquer imitação como a sua imagem pode até fazer crer. Ele é um animal de estrada e de pista, também capaz de um comportamento extraordinário em piso de terra bem batida: É fácil fazê-lo deslizar, de lhe colocar a traseira quase a ultrapassar a dianteira, sem perder o controlo. É quase como brincar com uma ‘quad’, mesmo mais confortável e seguro, basta trabalhar bem com a direcção, muito precisa, tal como o acelerador e o travão... E nem o jogo físico que o condutor precisa neste caso, nos retira o fascínio do Shelby Mustang GT500, um dos desportivos mais antigos em produção. Percorrer as estradas da orla marítima da Serra de Sintra ou a antiga classificativa da ‘Lagoa Azul’ pode fazer-se entre os 70 e os 160 km/h. Em dois troços tocámos os 200 com uma facilidade impressionante.

Voar baixinho para olhar a natureza
e ouvir o vibrar de um motor único
Passar para a Harley Davidson 1600 Rocker faz-nos descer à terra. Jogar seguro. Optar por menores velocidades e perceber o conceito desta moto americana: Voar baixinho para olhar a natureza e ouvir o vibrar de um motor único.
Destina-se ao passeio, ao culto do gosto pela natureza, à prática de uma cultura de marca que tem de tudo, do vestuário aos acessórios mais inacreditáveis e actualizados sem que o seu design questione os modelos Harley. A ‘Rocker 1600 C’ para além de um filtro de ar á vista à cor da moto, inclui um termómetro digital do óleo do motor. Mas este motociclo é muito fácil de conduzir: baixo centro de gravidade, não excessivamente longa e fácil de se deslocar em qualquer circunstância, porventura melhor na estrada.
Velocidade máxima aconselhável é bem distinta da possível de conseguir no Shelby Mustang: entre os 120 e os 150 é o ideal.
Harley Davidson é uma marca indelével da cultura industrial norte-americana. É uma distintivo que teve enorme sucesso em plena grande depressão nos Estados Unidos. Foi lançada em 1903, por William Harley e Arthur Davidson, e logo com motores de grande cilindrada com a arquitectura semelhante à actual, os dois cilindros em V. Com 750 e 1000 cm3 a partir de 1914. Depois, com 1200, 1400, 1600 e mais recentemente também com 1800 cm3. Todos estes equipam os modelos mais recentes. Mais ou menos extravagantes, personalizadas à medida de cada um, entre os 15 e os 100 mil euros, Harley Davidson são um mito, uma amante dos maiores apaixonados pelas motos em qualquer parte do planeta, capaz de juntar milhares.
... E os Shelby Mustang talvez sejam as Harley de quatro rodas!

José Maria Pignatelli

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