10.12.11

A união faz mesmo a força

Mais uma vez o povo português mostrou ao mundo que é, acima de tudo, solidário.


Mais uma campanha de angariação de bens alimentares do Banco Alimentar Contra a Fome e mais alguns recordes batidos.


No total, entre 26 e 27 de Novembro, foram recolhidas mais de 2 950 toneladas de géneros alimentares, em 1 615 superfícies comerciais. Entre 24 de Novembro e 4 de Dezembro foram doadas online 90 toneladas de alimentos, por 3 135 doadores, num total de 105 292,77 euros.


Mais de 36 mil voluntários participaram na campanha de recolha de alimentos, que serão distribuídos pelas mais de 2 047 Instituições de Solidariedade Social, que por sua vez os entregam a cerca de 329 mil pessoas com carências alimentares comprovadas, sob a forma de cabazes ou de refeições confeccionadas.


Mais uma vez os portugueses mostraram que a união faz mesmo a força, que conseguem unir-se em torno de uma causa que é nobre, que sabem como marcar a diferença.


Mas, há aqui um número alarmante: 329 mil pessoas com carências alimentares comprovadas. A estas somam-se os números da pobreza envergonhada e serão com toda a certeza muitos mais.


E como será em Maio na próxima campanha do Banco Alimentar? Onde irão parar estes números por essa altura?


Gostava de ter a certeza que os nossos eleitos vêem estes números com olhos de ver. Os analisam, os estudam, fazem e refazem as contas para que em Maio este número de pessoas com carências básicas diminua drasticamente.


Mas não tenho de todo esta certeza que isso aconteça. Aliás, não tenho sequer esse optimismo.


Acho mesmo que em Maio os números serão maiores, mais escandalosos, mais preocupantes.


E na realidade temos parte de um povo que vive da solidariedade e da caridade da outra parte do povo que ainda vai podendo ajudar.


E pergunto eu. Onde fica o nosso orgulho? Não como indivíduos, mas o nosso orgulho enquanto povo e país soberano? Que imagem têm os outros povos de nós? E que imagem temos nós de nós mesmos?


Não. Não se trata de uma questão de aparências. Porque de aparências vivemos nós durante muitos anos. Viveram os portugueses, que se endividaram até não poderem mais para poder conjugar o ver Ter. Viveu Portugal, que escondeu a sua falta de liquidez debaixo do tapete por demasiado tempo e conjugou o verbo Parecer.


E como a história se faz ao longo de muitos anos eu pergunto: o que têm a dizer agora, a números como “329 mil pessoas com carências alimentares comprovadas”, os Freitas do Amaral, os Pintos Balsemões, os Mários Soares, os Cavacos Silvas, os Antónios Guterres, os Durões Barrosos, os Santanas Lopes, os Josés Sócrates e os Pedros Passos Coelhos desta vida?


Faça-se como nos países do norte da Europa e ponha-se a justiça a funcionar. Talvez os imensos silêncios de uns e a verborreia politiqueira de outros leve outro rumo. Um rumo mais justo.


Teresa Salvado
Nota: Texto escrito para o jornal Nova Odivelas de 9 de Dezembro, 2011.

1 comentário:

Maria Máxima Vaz disse...

Estas pessoas que contribuíram, é gente da classe média, é gente que vai fazer as suas próprias compras.
O que me causa a maior admiração é como dormem descansados todos os que têm vencimentos e reformas acima de 2.000 euros. Ninguém precisa de 5.000 euros para viver dignamente. Como podem viver de consciência tranquila, sabendo que tantos dos seus compatriotas não têm o suficiente, tendo eles vencimentos obscenos?