1.11.11

Tragédia grega

A Grécia encontra-se à beira do colapso global, financeiro e social. O momento é insustentável. Os militares pressentem o pior e podem ter deixado transparecer a iniciativa de assumir o poder num registo de governo de salvação. Porventura um indicador de período claramente autocrata, uma ditadura controlada por militares. O governo grego acaba de destituir todas as chefias militares, mas não garante a sua própria sobrevivência.
Estamos perante o que poderá ser a primeira machadada nas democracias europeias, na própria união europeia. Depois de rasgadas vénias à globalização, agora a Europa procura desglobalizar-se, fechando a sua economia aos mercados não europeus, tentando sobreviver com aquilo que os seus membros produzem. Temos uma União Europeia que se fecha, mas que é composta de 27 economias abertas, algumas demasiado. Temos uma comunidade onde a Alemanha e a França procuram manter o seu bem-estar: precisam fazê-lo à custa dos que lhes devem, que têm de dever cada vez mais e com taxas de juro maiores, e de cumprir rigorosos calendários de pagamento. Os países periféricos encontram-se destinados a sustentar os mais fortes. A Grécia é uma das vítimas do capitalismo desenfreado e do socialismo que o alimentou.
Na Grécia, o anúncio do referendo à ajuda financeira externa poderá ser a gota de água que fez transbordar o copo numa Europa que não vê implementadas as decisões que toma, onde ninguém sabe onde se vai buscar dinheiro para pagar todas estas ajudas.
A partir de hoje, a União Europeia poderá estar em causa: para já poderá aumentar a distância entre os dez países não alinhados no ‘Euro’ e os 17 que se encontram dentro da Zona Euro.
A conjuntura é assustadora: a Grécia poderá sair da Zona Euro e da própria Comunidade Europeia e mergulhar num período de enorme autoridade política, uma nova ditadura no continente europeu.
Este período preocupante pode fazer mergulhar toda a Europa numa crise só conhecida no pós – II Grande Guerra. É também um sinal para o governo português que tem de fazer uma política transversal num registo de equidade a todos os níveis, sem ceder a pressões de monopólios e de interesses instalados, numa clara moralização do Estado evitando demasiada contestação tremendamente inoportuna.
Mas este acontecimento é também uma ocasião soberana para percebermos que a economia jamais se configura a troca de produtos e serviços, mas antes fortemente dependente das tecnologias, do digital e dos produtos financeiros.
José Maria Pignatelli

Sem comentários: