3.11.11

Europa das assimetrias

É um paradoxo assistir ao desmoronar do tecido económico e social da Grécia e, em simultâneo verificar que a taxa de desemprego na Alemanha baixou para menos dos 6%, o valor mais baixo registado nos últimos 20 anos. Afinal a crise na União Europeia, particularmente entre os países da Zona Euro, não encerra semelhanças tão evidentes. Portanto, as contas que se apresentam não são rigorosas. As assimetrias entre os ‘países do euro’ são cada vez mais evidentes. Ainda mais preocupante revela-se a ideia recente da Europa se desglobalizar, ou seja fechar o seu círculo ao exterior, esquecendo-se que ela própria é constituída por países com economias abertas, mesmo demasiado abertas.
Naturalmente que os dinheiros públicos na Grécia e em Portugal são mal geridos há décadas, mas também nenhuma entidade europeia se preocupou em fiscalizar atempadamente os investimentos feitos com os milhões que foram injectados nestas economias, na existência de economias paralelas e de corrupção assustadoras. Agora, pode ser tarde e percebe-se que os mais devedores não vão saldar os compromissos como não conseguem continuar a alimentar os mais ricos, por exemplo o bem-estar de alemães e franceses, numa preferência de troca comercial com estes países, mesmo que persista a máxima do que é alemão é bom… Será?
O economista José Carlos Sousa analisa de forma simples o momento:
Seria boa ideia produzir na Europa para vender na Europa, fechar os mercados aos asiáticos e americanos. Veríamos a "solidariedade" que existe entre os povos dos 27 membros da União. Esta "União" europeia foi demasiado ambiciosa: estabeleceram limites, sem se preocupar com o histórico económico e financeiro dos países, sobretudos dos periféricos ao Sul da Europa e proximamente, também dos países do Leste Europeu, que de momento, se encontram numa fase de crescimento graças aos muitos milhões de euros que são enviados pela Comunidade Europeia. Mas também se duvida do sucesso dos resultados salvo a excepção da Polónia e da República Checa.Acho que a ‘jogada’ do 1º ministro grego é fenomenal, de mestre. Receamos falar disto: este "referendo" pode precipitar a saída da moeda única e a Grécia ser ainda beneficiada com mais um perdão, numa óptica de permitir um reinício na actividade financeira de uma nova moeda minimamente ajustada. O 1º ministro grego tornou-se certamente o fardo mais pesado no Mundo, mas tomou a única decisão sustentável para a Grécia.”

Faz sentido continuar no Euro
Mas André Macedo, ‘in DN Opinião” com um artigo intitulado “O Belmiro sou eu”, demonstra como poderemos corroborar com a opinião de José Carlos de Sousa:
Há perguntas tão simples, tão simples que só conseguem respostas complicadas. Sabe qual é a vantagem de Portugal fazer parte do euro? Não foi apenas a agilização das trocas comerciais e nem sequer a maior proximidade com um mercado de 320 milhões de pessoas. Tudo isso é verdade, mas a resposta à pergunta - o que ganhou Portugal ao aderir ao euro? - é a seguinte: passámos a ter juros tão baratos como os alemães. Saiu-nos a sorte grande sem termos acertado no número. Em certo sentido, era como se eu tivesse passado a ser o Belmiro de Azevedo - não tinha o que ele tem, mas tinha acesso a juros tão baixos como ele.
Essa bizantinice acabou e, portanto, hoje somos confrontados com a pergunta impossível: faz sentido continuar no euro se já não conseguimos pedir dinheiro emprestado a um preço parecido ao da maioria dos nossos parceiros? Faz sentido insistir na moeda única se ela dificulta as exportações (encarece os produtos) e trava o crescimento de uma economia à procura de vocação?
Ora bem, para sairmos do euro com o menor custo possível só haveria uma saída: os credores de Portugal aceitarem um perdão substancial da dívida pública e, talvez, atribuírem um prémio de saída. Uma coisa do género: como nos vamos ver livres de vocês, gastadores compulsivos, além de perdoarmos parte da dívida, ainda vos ajudamos financeiramente na transição para que o ajustamento seja menos sangrento - sendo que seria sempre de uma dureza inquantificável, apesar de continuarmos na União Europeia.
O debate, pelos vistos, acaba de ser lançado pela Grécia. Ainda bem que Portugal não está confrontado com esta decisão radical. Há um factor que não deve em caso algum ser desprezado: o tempo. Hoje, os alemães não estão dispostos a passar mais cheques. Mas se acreditam no euro é inevitável que surja um compromisso. Qual? Obrigações europeias que cubram parte da dívida pública de cada Estado (30%?), o que, não resolvendo tudo - a dívida acima deste valor seria negociada nos mercados -, resolveria parte do problema. Haveria responsabilização para quem se endivida, mas também solidariedade entre os mais ricos e os mais pobres.
No entanto, para chegarmos aqui há condições obrigatórias. Os países endividados têm de cumprir um plano de austeridade penoso (o que não significa cego) e terão de ceder soberania. Estas condições precisam de ser absorvidas pelas pessoas, negociadas pelos políticos e concretizadas nos tratados
.”

José Maria Pignatelli

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