30.5.11

Fora-de-jogo

Prazos da ‘troika’ mais apertados


em documento que Sócrates escondeu


A campanha eleitoral está distante da realidade nacional e muito mais daquilo que nos aguardar já para os próximos meses. Já aqui escrevi sobre este tema. Devemos estar preocupados, muito mais com as últimas notícias que nos dão conta da existência de dois documentos relacionados com o acordo aceite com a ‘troika’ para a ajuda financeira externa: um primeiro, que foi a que todos os líderes políticos portugueses tiveram acesso e um segundo, que será apenas do conhecimento do actual primeiro-ministro, do seu governo e dos membros da ‘troika’ de negociadores, com especial destaque para os representantes da União Europeia.


No essencial, o segundo documenta encurta quase todos os prazos propostos no primeiro, particularmente no que respeita às avaliações e auditorias a fazer a quase todo o sector público e mesmo já relativos a algumas decisões como, por exemplo à fusão de autarquias e extinção de empresas municipais.


Alguns dos prazos propostos no documento final são quase impossíveis de cumprir, até porque condicionam a própria avaliação a realizar.


Para cumprir este segundo acordo será necessário um enorme esforço colectivo dos funcionários públicos das chefias da administração e dos eleitos a sair das eleições. Este diploma é efectivamente diferente do primeiro e não encerra apenas algumas rectificações técnicas.


Devemos questionar:


Porque foram aceites estas alterações e neste particular momento?


O que levou o primeiro-ministro a esconder este facto aos portugueses e aos outros candidatos?


Caso não se consiga cumprir o que nos sucederá?


Será oportuno considerar uma renegociação da dívida antes do próximo orçamento ou mesmo inclui-la no futuro documento?


Afinal de contas, o plano da ‘troika’ acordado com os nossos credores é exequível?


Creio que estas são algumas das perguntas que todos os dirigentes dos partidos que concorrem às eleições devem fazer ao ainda primeiro-ministro. José Sócrates terá de ser responsabilizado por comprometer eventualmente o futuro do País a maiores dificuldades que as previsíveis e por tempo quase indeterminado. Os políticos não devem temer perder votos por serem menos simpáticos com líder socialista. Antes fazê-lo rapidamente e não deixar quaisquer dúvidas sobre as contrariedades dos tempos mais próximos.


Os portugueses têm de perceber que o próximo governo não poderá ser simpático, mas poderá ser justo e cortar muitos males do próprio aparelho de Estado, antes de atrapalhar a já difícil vida da esmagadora maioria dos cidadãos que vivem do produto do seu trabalho.


Também precisamos de crer que o próximo executivo terá a capacidade de encorajar o tecido produtivo, disciplinar os agentes económicos, criar condições ao investimento nos sectores primário e secundário, reestruturar e dar independência à justiça, aumentar a nossa credibilidade nos mercados internacionais, ‘bater o pé’ às instituições internacionais e fazê-las perceber que nos encontramos no mesmo barco.


Oxalá, as oposições ao actual governo expliquem aos portugueses a realidade e o que será possível discutir com os credores, tanto aqueles que nos emprestam por via do acordo com a ‘troika’ como com os que adquiriram nossa divida pública.


Precisamos de uma alternativa corajosa, mesmo que essa não colha a maioria dos votos.


Os portugueses também terão de aprender pelos erros que cometem.

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