20.12.10

Wikileaks dá "tiro" no BCP

Em Abril de 2009 BCP enviou delegação ao Irão.

Em Fevereiro de 2010 BCP fala com diplomatas Norte-americanos.

Governo não sabia (…) Só o Banco de Portugal foi informado

O wikileaks enviou para o ciberespaço notícias sobre actividades do banco português BCP. O jornal espanhol El Pais foi o primeiro dar importância aos factos. Pressupostamente o BCP foi um dos escolhidos para os iranianos fazerem passar os seus biliões de dólares para o mundo do investimento internacional na perspectiva de conseguirem transferir em activos de maior valia tanto nos mercados Ocidentais como no extremo Oriente.

Sabe-se que o BCP enviou uma delegação a Teerão, capital do Irão em Abril de 2009 e manteve diálogo com diplomatas Norte-americanos em Fevereiro deste ano. Também se conhecem as informações do Banco de Portugal sobre as medidas restritivas internacionais aos negócios com os iranianos.

É do conhecimento global que a riqueza iraniana para se multiplicar precisa fazer entrar o seu dinheiro resultante da venda do petróleo nos maiores mercados financeiros e na aquisição de produtos sólidos. Para isso necessita de utilizar bancos mais pequenos com relativa credibilidade capazes de fazer a ponte com os poderosos. Nada melhor que utilizar países periféricos que necessitam de maior liquidez, mas que permitem garantias pelo simples facto de integrarem políticas económicas mais amplas e utilizarem moedas únicas com paridade e internacionalmente respeitáveis.

De uma forma simplista, trata-se de contornar o efeito anti-iraniano e proporcionar-lhes que prosperem no mundo da finança, particularmente no Ocidente europeu e nos Estados Unidos. Os seus biliões de dólares fazem falta aos mercados financeiros globais, mas é necessário manter as aparências de que estamos todos contra o Irão pelo radicalismo instalado no poder (…)

Ou seja, se por um lado estamos contra o regime, por outro estamos a favor em atrair os seus proventos financeiros resultantes da venda do petróleo, não nos importando de estarmos a tornar o Irão numa economia sólida, capaz de um crescimento acima da média, de criar uma nova classe média com determinados parâmetros de forma a ser manipulável e alimentar um exército cada vez maior que poderá já ter ultrapassado um milhão de efectivos.

Estamos perante um novo paradigma – o da ambição dos operadores financeiros que não se preocupam em vulnerabilizar os seus países, as suas famílias os seus próprios bens a troco do poder imediatista nos mercados financeiros.

Muitas figuras públicas conhecidas de vários meios, desde a economia, à cultura e desporto alertam para estes perigos futuros, muito provavelmente a curto prazo que é o estarmos a abrir as portas das nossas casas aos nossos inimigos, aos que pretendem ocupar um espaço demasiado importante na liderança dos desígnios internacionais.

É portanto natural que se utilize empresas dos países em maior aflição económica e financeira que mostram ao mundo que se encontram endividados até ao pescoço e, aliás mendigam por países designados de emergentes cujos regimes são dos mais duvidosos e nem sequer fazem uso da carta dos direitos humanos.

O mundo conhece a aflição portuguesa

Ora é aqui que entra Portugal.

A corrida contra o tempo da crise feita por José Sócrates é internacionalmente conhecida.

Para o Irão basta procurar aqui uma instituição bancária mais fragilizada (capital muito disperso e acções baixas) mas que em simultâneo possui investimentos e delegações nos países poderosos e naturalmente de um País alinhado com o euro e dependente do BCE - Banco Central Europeu.

Construir uma ponte.

Os iranianos perceberam as nossas debilidades em Abril de 2009

Só que segundo o wikileaks, o presidente do BCP Santos Ferreira não terá sido leal à causa do cliente e terá pretendido tirar partido do favorecimento dos Estados Unidos e vai daí entendeu misturar negócio com diplomacia.

Depois de ter manifestado como irrelevante as notícias publicadas no El Pais oriundas do Wikileaks, Santos Ferreira lá foi “escorregando” e confirmando contactos com as duas partes. Naturalmente que, pelo meio informou a tutela fiscalizadora, o Banco de Portugal, das intenções dos iranianos.

Só não terá revelado entretanto as suas iniciativas junto da embaixada Norte-americana. Também confessou ter deixado de fora o governo, particularmente o ministro Luís Amado dos Negócios Estrangeiros.

A questão não tinha relevância e tratasse de assuntos internos de uma empresa privada. Disso não temos qualquer dúvida.

Fica-nos a ideia que poderemos estar efectivamente perante uma jogada dupla de um líder empresarial que poderá ter pretendido ganhar de dois lados e a um a patamar demasiado elevado. Santos Ferreira colocou em causa a credibilidade de Portugal, aliás já abalada por uma multiplicidade de casos que aconteceram nos últimos trinta anos. O próprio líder bancário aceitou ter vendido armas (no caso torpedos) ao Irão quando liderava a extinta Fundição de Oeiras em 1987, obviamente então com o conhecimento de todos os responsáveis pelo País.

Mas para dissipar dúvidas o wikileaks proporciona detalhes precisos destes relacionamentos considerados promíscuos e Luís Amado acaba por “estalar o verniz” num encontro com jornalistas, perdendo a noção dos valores que presidem à diplomacia.

É natural que assim fosse: o seu correligionário de partido não teve sequer a hombridade de o informar sobre pretensão do BCP fazer uns favores a troco de uns dividendos mais “gordos” para reanimar o banco e obviamente os dividendos aos accionistas.

E sobre a mesa está efectivamente um dossier que ainda não mereceu um desmentido formal que afirme categoricamente que os profissionais do wikileaks manipularam informação (…) Antes sabemos que o BCP enviou uma delegação a Teerão em Fevereiro de 2009 e conversou com diplomatas Norte-americanos (e mais alguns que não foram aclarados por Santos Ferreira) em Lisboa em Fevereiro deste ano. Mais são reconhecidas as informações do Banco de Portugal sobre as medidas (internacionais) restritivas relativamente a negócios financeiros com o Irão.

Certo é que Santos Ferreira deu um tiro num pé e vários na credulidade do BCP, mostrando que entre nós também existem especuladores e usurários que se tornam personagens perigosos para a soberania do País e interesses dos cidadãos independentemente se são ou não clientes da instituição.

José Maria Pignatelli

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