19.11.10

O que a NATO tem e não tem

“O que é que a Nato tem ?” é um artigo publicado no blogue ABC do PPM, da autoria de Paulo Pinto Mascarenhas que recorda algumas notáveis actuações da organização... mas com algumas imprecisões históricas. È como sermos adeptos de um clube quase cegamente. A Organização do Tratado do Atlântico Norte não é composta por nenhuns “meninos de coro” e muito provavelmente não é nem será nenhum bastião da democracia.

O Afeganistão não são só pedras, agricultura rudimentar, plantações de papoilas e fábricas de armas no meio do nada, muitas quase subterrâneas. Se assim fosse não estavam lá jornalistas de quase todo o mundo, até portugueses de estações e jornais que fazem das tripas coração para arranjar capacidade financeira para os lá colocar...

Porque será que lá vamos?

Temos alguma afinidade histórica com o Afeganistão?

Obviamente nenhuma!

Mas outros interesses se levantam, o dos nossos aliados. E lá no Afeganistão os dois maiores interesses estão por baixo das pedras – o gás natural principalmente e depois o petróleo.

A NATO auto disciplina-se por força dos conselhos dos “generais” que garantem ou não ao Poder Político vitórias independentemente do número de feridos e mortos do seus militares e dos civis cujos resultados têm sempre duas versões, a dos repórteres no terreno que andam por conta e risco próprio nas mãos de guias, e o das agências noticiosas ou televisões que só vão à frente de batalha escoltados por umas dezenas de militares de elite e de helicóptero. São as realidades de quem têm por detrás máquinas empresariais poderosas como o caso da CNN. No Afeganistão as operações da NATO são claramente organizadas pelos Estados Unidos e não anda por lá a libertar um país do tráfego de droga garantidamente. É preciso conhecer as causas, o povo, as carências, convicções e o terreno.

Recordo para os mais esquecidos que o Afeganistão foi recentemente o Vietname da ex União Soviética... Na data em que os Estados Unidos apoiaram os Talibã e ajudaram o seu actual inimigo público número um, Bide Laden que preparava guerrilheiros na Somália.

É perigoso esquecermos a história ainda por cima contemporânea. Também não é saudável entendermos a existência de organizações militares como fazendo parte do lado positivo da humanidade enquanto seres pensantes e responsáveis.

Garantidamente que a paz na Europa foi mantida acima de tudo por Estadistas que fazem muita falta nos tempos que correm:

§ Como os franceses Charles de Gaulle, Georges Pompidou, Valéry Giscard d’Estang, (Jacques Dellors na Comissão Europeia);

§ Os britânicos Wiston Churchill, Harald Macmillan, Edward Heath, Margaret Thatcher e Jonh Major;

§ Os germânicos da então Alemanha Ocidental Willy Brandt e Helmut Kohl;

§ O não menos importante Marechal Titto da República da Jugoslávia que tirou os Balcãs ao controlo da então União Soviética;

§ E alguns líderes dos países nórdicos que mantiveram o distanciamento necessário para recuperarem de períodos onde mais de metade da população passava enormes privações.

Sem estes chefes políticos de fortes convicções a NATO não teria qualquer importância na defesa da paz no Ocidente europeu.

E tanto assim é que, em plena guerra fria, Margaret Thatcher enviou para as Malvinas, a mais de 13 mil quilómetros, metade da sua armada que teve a capacidade de afundar 95% do poderio militar argentino, então cotado entre a quinta e a sexta marinha mais poderosa.

Mas apetece-me deixar aqui um exemplo solto: recordo que a comunicação social portuguesa projectou mais viagens e conteúdos dos conflitos do Afeganistão, dos Balcãs e das crises do Médio Oriente que algum dia fez relativamente à guerra civil em Angola ou ao conflito entre Marrocos e a Frente Polisário que aliás fica a pouco mais de duas horas de distância de qualquer voo a partir de Lisboa.

Porque será?

E para que não restem dúvidas não sou de estrema esquerda como acontece com muito boa gente que se opõe à organização e que nem sequer se revê numa reforma estratégica virada para a vertente militar ou económica da instituição.

José Maria Pignatelli

1 comentário:

Miguel X disse...

Par que não fiquem dúvidas, a parte que concordo é esta:

"falta ainda definir o seu novo papel no Mundo. A cimeira de Lisboa poderá ficar ligada a esse novo conceito estratégico da Aliança. Para que serve a NATO no século XXI? Para combater o terrorismo - o que justifica a intervenção no Afeganistão, como forma de combater o narcotráfico, um dos principais meios de financiamento do terror? Para conter futuras ameaças totalitárias, os nacionalismos dispersos, como instrumento de prevenção de conflitos ao serviço das Nações Unidas? Lisboa irá moldar o futuro da NATO, disse o secretário-geral da Aliança Atlântica. Só por isso, já valerá a pena."