9.8.10

Fogos da época

Em Portugal, os fogos são como a época balnear ou como a época de ópera no Teatro S. Carlos. Tem data marcada. Melhor tem data para começarem e para terminarem. Uma espécie de fogos a la Carte.

Perfeitamente incompreensível.

Um casal francês que esteve comigo no passado fim-de-semana ficou impressionado. Estiveram cá no Verão de 2008 e voltaram agora.

Tal como há dois anos, pretendiam fazer a rota das termas e passar uns dias em São Pedro do Sul.

O mesmo cenário – fogos atrás de fogos. Fumo por todo o lado.

Por segurança e provavelmente por questões emocionais optaram pela região Oeste – começarem em Óbidos e Caldas da Rainha e depois seguiram a rota das Linhas de Torres, para terminarem em Cascais.

Viajam em automóvel pessoal para conseguirem maior mobilidade. Entraram no País por Vilar Formoso e trinta minutos depois iniciaram uma vigem quase sempre acompanhados pelo fogo.

Quando viram as notícias na têvê ficaram impressionados porque perceberam que, em dois dias, aconteceram mais de 300 fogos e, muitos deles acenderam-se de noite.

Questionaram-me sobre a quem interessam os fogos, quem controla o corte das árvores queimadas e a comercialização da madeira queimada... e também da menos queimada que acaba por ser cortada.

Quando lhes contei que os fogos em Portugal tinham uma época com data marcada, acabaram por soltar um sorriso e perguntaram-me se quem decide este estado de coisas goza de perfeito juízo.

Naturalmente que acabei por não ser directo nas respostas, por não manifestar as minhas ideias. Precisamos acima de tudo de aqui ter muitos estrangeiros a consumir, a fazer despesa a deixar cá muitos euros que tanta falta nos fazem.

De qualquer forma não deixa de ser preocupante que o nosso cartão-de-visita corresponda muitas vezes ao pior que se oferece na Europa.


Ler a edição do jornal espanhol El Pais da passada sexta-feira deixa-nos relativamente preocupados com a imagem que se passa a quem nos visita por uns dias e é mais observador. Naquele prestigiado meio de comunicação madrileno lê-se que Lisboa é uma cidade senhorial e bela, mas que está decadente mais do que nunca. Que entre muitas outras coisas tem mais de 4 mil edifícios em avançado estado de degradação, inclusivamente numa das mais importantes avenidas (da Liberdade), mesmo ao lado de algumas das mais conhecidas lojas de estilistas de renome internacional. O artigo, da autoria de um jornalista que veio viver para Lisboa precisamente para fazer este trabalho editorial, referencia ainda que ¼ da população vive no limiar da pobreza ou mesmo abaixo dele, recordando que desde 2005, a cidade perdeu quase 100 mil habitantes.

Obviamente que poderemos estar perante quem pretenda desacreditar a nossa capital, de quem tenha correspondido a uma qualquer campanha de turismo onde se ajuste que Lisboa fique de fora. Mas convenhamos que se pusermos a mãozinha na consciência e ainda que demasiado rigorosa, a peça jornalística não narra nada que por cá não suceda.


José Maria Pignatelli

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