14.6.10

24 horas de emoções em Le Mans


È inacreditável a Peugeot preparar uma corrida durante mais de dez meses, colocar na frente de partida os quatro carros, controlar grande parte das primeiras onze horas de corrida, jogar em casa como carro mais rápido em mais de 1,20 segundos por volta que o concorrente Audi e deitar tudo a perder porque andaram sempre a fundo, a fazer voltas e mais voltas com tempos quase iguais aos realizados nas melhores voltas dos treinos.

Certamente que pretendiam os franceses bater o recorde da distância e a mais elevada velocidade média ao longo das 24 Horas ainda em poder da dupla formada por Helmut Marko e Gijs Van Lennep que, em 1971 como célebre Porsche 917 K percorreram 5.335 km à media de 222,304 km/h. Apesar do circuito ser actualmente menos veloz, nas primeiras 10 horas de corrida o registo era melhor que em igual período de 1971… Mas os Peugeot rodavam no limite. A maioria dos comentadores abordaram esta questão como podendo ser um erro estratégico e fatal para quem tinha de triunfar sobre todos os pontos de vista - imagem e prestigio da marca e dos seus motores diesel; retorno do investimento; triunfo em casa na mais emblemática prova mundial de 24 horas.
Seguimos atentos à espectacular transmissão nocturna. Os momentos em que se jogam todos os trunfos. Os períodos das assistências mais longas e, muitas vezes as mais problemáticas, onde acontecem as maiores angústias. Foi isso mesmo que aconteceu à Peugeot – depois do carro da tripla Sebastian Bourdais, Pedro Lamy e Simom Pagenaud ter ficado de fora concluída a terceira hora, foi a vez da morte lenta dos outros dois Peugeot oficiais durante a noite. O pior estava para suceder ao Peugeot da equipa Oreca de Olivier Panis – sempre a fundo fragilizou o motor que partiu a escassa hora do termo da corrida. O desastre da marca francesa foi aproveitado pelos Audi R15, também com motores diesel, que ocuparam os 3 primeiros lugares. O 1º classificado fez 397 voltas.
Resta-nos os extraordinários momentos nocturnos com os bólides e os números laterais iluminados e iluminação suplementar por leed’s, corrida a ser transmitida de dentro dos carros mais rápidos, presenciarmos ultrapassagens vertiginosas a mais de 350 Km/h.
Espantoso, foi vermos alguns destes pilotos, os melhores do mundo do endurance (onde se inclui Lamy) como Kristensen da Audi, a fazer 4 horas de condução consecutiva com voltas a mais de 215 Km/h de média e com momentos acima dos 360 quilómetros horários, mais rápidos que os Fórmula 1.
A transmissão nocturna permitiu-nos recordar algumas peripécias desta antiga prova, perceber quanto silenciosos são os motores diesel de corrida, quantas pequenas irregularidades se cometem num enorme receituário de regras sem pés nem cabeça, e que, aqui, um piloto de F1 ou mesmo de ralis não se aguentaria tantas horas nem de pé nem no carro.

José Maria Pignatelli

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