12.5.10

Um Papa sem brilho

A viagem de Bento XVI ao nosso País faz-se num momento particularmente difícil da vida da Igreja, mas também do quotidiano português. Estamos mergulhados numa crise económica, social, moral porventura mais profunda do que se imagina.
O Papa Bento XVI é diferente do antecessor João Paulo II. Percebe-se que é também de fortes convicções, conhece e sabe o caminho que percorre. Está mais distante das multidões. Interage com enorme dificuldade. E não consegue aproximar-se aos mais jovens independentemente da estratégia que deixa transparecer para o futuro.
O Papa é assim e os portugueses fiéis sabem-no.
A resposta foi a que se viu:

Incomparavelmente menor que a recepção a João Paulo II.
Muito poucos às janelas.

Menos bandeiras e colchas penduradas.
Nos percursos as multidões apareceram sobretudo depois da missa do Terreiro do Paço e quase só até aos Restauradores. Valeram os jovens que acreditaram valer a pena seguir Bento XVI até à Nunciatura, na Latino Coelho, e dedicar-lhe umas serenatas.
Mas o Santo Padre trouxe a lição bem estudada. Percebeu que vinha rezar com um povo desmotivado a precisar de refugiar-se na espiritualidade. E deixou algumas mensagens e recados ao poder político. Na missa do Terreiro do Paço recordou que foi dali que os portugueses se aventuraram à descoberta de novas paragens. Que dali partiram muitos missionários que quase globalizaram o cristianismo. Apontou claramente que o futuro poderá voltar a estar no mar, na procura de novos destinos, e oportunidades.
E talvez por isso Bento XVI também afirmou recear estar num País onde a fé se pode perder, numa clara alusão às dificuldades económicas que o Pais atravessa, desigualdades sociais em crescendo e, naturalmente às iniciativas legislativas como o liberalização do aborto e a permissão do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Bento XVI deixou estes recados na homilia da missa campal do Terreiro do Paço que se encheu de crentes e que teve uma transmissão televisiva feita a uma só realização para todos os canais de televisão. Uma transmissão que pecou pela falta de ambição, exagerou dos planos mais fechados e se esqueceu de contribuir para a venda da nossa imagem de marca, alargando os horizontes nos tempos mortos do evento, tanto mais que se estava no coração da cidade e que se podia ter mostrado muito mais. E isto era tudo possível mesmo sem perder a noção do bom senso que tem de imperar nestas circunstâncias.
Bento XVI terá de fazer um enorme esforço para renovar as energias e a auto estima, mesmo emocionar a multidão que o aguarda no Santuário de Fátima. O Papa tem de perceber Fátima, de saber o esforço de dezenas de milhar que prometeram e percorreram centenas de quilómetros a pé, para com Ele rezarem.

José Maria Pignatelli

1 comentário:

Miguel X disse...

O meu amigo hoje não deve ter subido a Calçada, ou se o fez, não foi certamente à Baixa depois das 16,30.
Um abraço